24 de Janeiro de 2025 | Jean Vitor Schmidt e Larissa Gabriel Alvares

Da esquerda para direita: João Lopes, Daniel Daibem, Enielse Oliveira | Créditos: Reprodução – Blue Note SP
Em entrevista exclusiva, o compositor longevo Daniel Daibem comenta sobre choques intergeracionais no mundo da música
Um dos grandes nomes da música brasileira, Daniel Daibem, acabou de completar 52 anos de idade no último 17 de janeiro. O músico e apresentador, conhecido por desvendar os fundamentos da linguagem do jazz de forma simples e didática, iniciou sua jornada no rádio e hoje leva aos palcos, a mesma didática, em forma de show, compondo um Trio, que leva seu nome, e o Projeto Vanda And The Youngs.
Ativo em suas redes sociais, em dezembro do último ano, o cantor e compositor longevo Daibem (voz e guitarra), que se apresenta em trio ao lado dos músicos João Lopes (bateria) e Enielse Oliveira (contrabaixo elétrico), expôs em seu Instagram a resposta a um comentário recebido ‘um tanto quanto etarista’. Em sua caixinha de perguntas foi questionado o motivo de músicos tão jovens como João e Enielse tocarem ao lado de Daniel, de 52 anos, alertando aos integrantes mais novos que isso era “fim de carreira”.
O que o autor do comentário não esperava é que Daniel fosse responder seu comentário, alegando como o “etarismo é uma das formas mais canalhas e covardes de despejar as próprias frustrações em público”.
Veja a publicação que reverberou:
A publicação deu espaço para que vários usuários refletissem sobre o assunto. Em entrevista exclusiva sobre o tema ao The Silver Economy, Daniel contou mais detalhes suas experiências com estereótipos na maturidade e no mundo da música.
A cilada do etarismo
A escolha de expor este comentário não foi por acaso: “Eu só respondo publicamente […] quando isso pode proporcionar uma reflexão educativa. Eu faço isso porque tem muita gente que acaba escrevendo depois: ‘Você é muito mais que isso, não dê bola para isso’, e eu falo: não. Eu só trago como tema quando a gente pode extrair alguma coisa educativa”, explica Daniel.
Para o cantor, é natural que biologicamente exista uma tolerância maior com pessoas mais próximas a sua idade, em consequência, seu círculo de relacionamentos tende a ter uma faixa-etária equivalente. No entanto, o problema se encontra quando existe uma discriminação entre individuos por conta desse preconceito.
“O interessante do etarismo é que ele é uma cilada, né? Ele é uma cilada porque ele lida com um fator que você vai passar por isso daqui a pouco”, completa Daniel.
O espaço na imprensa também é importante para construir (e desconstruir) padrões, principalmente acerca da aparência de pessoas maduras. O artista também contou como, por conta das propagandas, é natural que exista um estranhamento e pensamentos que reforçam estereótipos de pessoas 50+, mas que a inclusão de novas perspectivas na mídia, principalmente sob o tema do envelhecimento, possibilita que tais preconceitos não sejam reforçados.
Inspiração para os longevos
Em um de seus projetos, o Vanda and the Youngs, Daniel, que também toca ao lado de músicos mais jovens, interpreta músicas do AC/DC. É interessante notar que o conjunto, formado em 1973, é uma das bandas mais longevas do mundo, já atuando há mais de 50 anos. Quando perguntado sobre como esse exemplo pode ajudar a combater o etarismo e que influência ele pode trazer para a pessoas maduras. O artista afirmou:
“Com certeza ajuda, porque, é claro, o próprio Gilberto Gil, por exemplo, se pedir a ele para tocar ‘O Canto da Ema’, provavelmente não terá o mesmo vigor de antes, aos 25 anos. Eu sinto isso na pele. O Angus Young, guitarrista do AC/DC, não se movimenta mais daquele jeito frenético. Quem o vê, grisalho e de shortinho, vai estranhar o estilo, e a gente só tem a lamentar, porque essas pessoas também vão chegar nessa idade, e aí vai ser a vez delas. Elas vão estar ali como velhos caquéticos ou como jovens idosos?”.
Por diversas vezes, o cantor recebe perguntas em suas redes sociais questionando se é possível aprender um instrumento depois dos 30 ou 40 anos. Daniel é direto: “O que você se apaixona, tem idade? O que você se entusiasma, tem idade? […] Então, a música não tem idade”.
Indicação de prata
Ao final da entrevista, Daniel deixou três indicações de maduros do mundo da música para curtir e aprender.
- Scary Goldings
- É a junção do projeto Scary Pockets, de Ryan Lerman, e Jack Conte, 38 e 40 anos respectivamente, com o músico de jazz, Larry Goldings, de 56 anos. O conjunto realiza parcerias com diversos nomes do mundo da música. Seu quarto álbum foi gravado em conjunto com o músico John Scofield, de 73 anos.
- Rick Beato
- Richard John Beato, 62 anos, mais conhecido como Rick Beato, é um famoso youtuber, multi-instrumentista, produtor musical e educador estadunidense. Em seu canal, Rick faz compilações, realiza entrevistas e ensina assuntos diversos relacionados à música.
- Gilberto Gil
- Conhecido por sua relevante contribuição na música brasileira e por ser vencedor de prêmios como Grammy Awards e Grammy Latino, Gilberto Gil, 82 anos, é cantor, compositor, multi-instrumentista, produtor musical e escritor brasileiro.
- Em mais de cinquenta álbuns lançados, ele incorpora a gama eclética de suas influências, incluindo rock, gêneros tipicamente brasileiros, música africana, funk, música disco e reggae.