01 de Fevereiro de 2024 | Hever Costa Lima
Conexões com outras pessoas são importantes para nossa saúde
Crédito: Freepik
Estudo de Harvard revela que manter vínculos afetivos de qualidade é um dos fatores que contribuem para o bem-estar físico e emocional dos maduros
O Dr. Robert Waldinger, diretor do Harvard Study of Adult Development, da Universidade de Harvard, estudou por muitos anos o que ajuda as pessoas a viverem suas vidas mais felizes e saudáveis. O projeto de pesquisa de 85 anos abrange três gerações e inclui 2.024 participantes. De acordo com o estudo, exercícios, uma dieta saudável e uma sensação de realização ou propósito na vida são importantes para o nosso bem-estar a longo prazo. Mas há mais um segredo incomum para o bem-estar a longo prazo que o estudo de Waldinger descobriu: relacionamentos.
Seu novo livro, ainda não publicado em português, “The Good Life: Lessons from the world’s longest scientific study of happiness”, escrito com o diretor de estudos associado Marc Schulz, detalha como os bons relacionamentos são um dos alicerces não apenas de uma vida mais feliz, mas também fisicamente mais saudável. Uma das descobertas mais importantes do estudo de Harvard é que nossas conexões com outras pessoas, sejam elas íntimas ou casuais são importantes para nossa saúde. Vários outros pesquisadores ao redor do mundo também descobriram que, quanto mais conectados estamos com outras pessoas, menor é o risco de morrer, em qualquer idade, seja uma “mulher negra na Geórgia rural ou um homem branco na Finlândia”, como Waldinger detalha no livro
Outra pesquisa que catalogou resultados de 148 estudos em países que vão da China ao Canadá, Japão, Dinamarca, Israel e outros, descobriu que “em todas as faixas etárias, gêneros e etnias, fortes conexões sociais estavam associadas a maiores chances de viver mais”. Em contraste, a solidão e o isolamento social estão ligados a uma saúde pior, depressão e maior risco de morte precoce. “As diferenças são significativas, comparáveis ao efeito do tabagismo na contração de câncer”, ressalta Waldinger.
Pesquisadores de Harvard descobriram que, à medida que os participantes do estudo envelhecem, aqueles que estão em relacionamentos mais felizes tendem a enfrentar dores com mais facilidade. “Quando os participantes de relacionamentos felizes tinham dias com mais dor física, eles permaneciam felizes, relatando muito pouca mudança em seus humores. Por outro lado, quando as pessoas em relacionamentos infelizes relataram dor física, seu humor piorou, causando-lhes dor emocional adicional”, detalha a pesquisa.
Tais conexões neurais podem melhorar sua capacidade de combater germes ou dar-lhe uma visão mais positiva da vida. O convívio social pode desencadear a liberação de hormônios e substâncias químicas cerebrais que não apenas nos fazem sentir bem, mas também têm outros benefícios biológicos.
“O toque físico pode reduzir o nível de cortisol, um hormônio do estresse, e aumentar a produção de imunoglobulina A, que ajuda a expandir o número de células brancas do sangue e fortalecer o sistema imunológico. Além disso, o toque físico também pode aumentar a produção de serotonina, um neurotransmissor que ajuda a regular o humor e a sensação de bem-estar”, diz Waldinger.
Nesse contexto, explica o pesquisador, os relacionamentos também podem ter um efeito profundo em nosso sistema imunológico, impactando o quão bem construímos anticorpos para a gripe, ou a capacidade do nosso corpo de curar.
A conexão social refere-se à sensação de pertencer a um grupo e sentir-se próximo de outras pessoas. A evidência científica sugere fortemente que essa é uma necessidade psicológica fundamental, essencial para nos sentirmos satisfeitos com a vida. De fato, os seres humanos são uma espécie profundamente social; nosso impulso de se conectar com os outros está incorporado em nossa biologia e história evolutiva. Começa no nascimento, em nosso relacionamento com nosso cuidador – e os efeitos desse relacionamento parecem reverberar ao longo de nossas vidas.
Por fim, os autores de Harvard apontam para pesquisas que sugerem que segurar a mão traz benefícios à saúde. Em um estudo, onde os pacientes receberam pequenos choques elétricos, os pesquisadores descobriram que os participantes que estavam de mãos dadas com alguém de quem se sentiam próximos relataram sentir menos dor. Um grupo de controle que deu as mãos a estranhos não experimentou tal efeito.
Na verdade, o efeito foi tão grande que o autor do estudo, o professor da Universidade da Virgínia James Coan, concluiu que segurar a mão de um ente querido durante um procedimento médico era tão bom quanto qualquer anestésico leve – uma descoberta que é especialmente verdadeira em relacionamentos mais satisfeitos.
Waldinger suspeita que o que está acontecendo em todas essas situações é que todo o nosso corpo, do coração à cabeça, está experimentando e reagindo ao estresse de maneiras antigas e primordiais.
As conexões sociais são importantes para a saúde e podem prolongar a vida. Aqui estão algumas maneiras de se envolver com outras pessoas:
– Junte-se a um grupo focado em um hobby favorito, como leitura, caminhadas, pintura ou escultura em madeira.
– Faça uma aula de yoga, tai chi chuan ou outra nova atividade física.
– Ajude com jardinagem em uma horta comunitária ou parque.
– Seja voluntário em uma escola, biblioteca, hospital ou local de culto.
– Junte-se a um grupo da comunidade local ou encontre outras maneiras de se envolver em coisas que lhe interessam.