01 de Fevereiro de 2024 | Hever Costa Lima
A pesquisa identificou os elementos que intensificam a probabilidade de fragilidade na terceira idade.
Crédito: Freepik
Fatores que aumentam o risco de fragilidade na velhice são diferentes entre homens e mulheres
Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da University College London realizaram um estudo inovador, analisando dados de 1.747 idosos ao longo de 12 anos. O objetivo era mapear os diferentes caminhos que podem levar a um desfecho negativo na saúde dos idosos, com foco na chamada síndrome da fragilidade.
A síndrome da fragilidade é uma condição que torna os idosos mais suscetíveis a quedas, hospitalizações, incapacidade e morte precoce. É caracterizada pela presença de três ou mais dos seguintes fatores: perda de peso involuntária, fadiga, fraqueza muscular, diminuição da velocidade de caminhada e baixa atividade física.
O estudo revelou que os fatores que aumentam o risco de fragilidade na velhice são diferentes entre homens e mulheres. Homens com osteoporose, baixo peso, doenças cardíacas e com percepção da audição avaliada como ruim têm maior risco de desenvolver a síndrome. Já entre as mulheres, o risco está associado a alta concentração sanguínea de fibrinogênio (um marcador de doença cardiovascular), diabetes e acidente vascular cerebral (AVC).
Os fatores socioeconômicos, distúrbios musculoesqueléticos, doenças cardíacas e baixo peso sustentam o processo de fragilidade nos homens. Já nas mulheres, o processo parece estar ancorado em distúrbios cardiovasculares e neuroendócrinos”, diz Tiago da Silva Alexandre, professor do Departamento de Gerentologia da UFSCar
Os pesquisadores basearam suas conclusões na análise de dados do English Longitudinal Study of Ageing (Estudo Elsa), uma pesquisa populacional realizada no Reino Unido. “A síndrome da fragilidade serve como um sinal amarelo para desfechos negativos em pessoas idosas”, explica Tiago da Silva Alexandre e autor do estudo. “Identificar diferenças nesse processo entre homens e mulheres é importante para a formulação de políticas públicas. Isso pode ter reflexos na atenção básica de saúde e resultar em planos de ação e intervenção em pessoas idosas mais focados no gênero.”
O trabalho, fruto da tese de doutorado de Dayane Capra de Oliveira, revelou que os fatores que levam homens e mulheres a desenvolverem a síndrome da fragilidade estão ancorados nos distintos papéis sociais e acesso a recursos ao longo da vida.
A descoberta apontou questões multifatoriais relacionadas à fragilidade. “Os fatores socioeconômicos, distúrbios musculoesqueléticos, doenças cardíacas e baixo peso sustentam o processo de fragilidade nos homens. Já nas mulheres, o processo parece estar ancorado em distúrbios cardiovasculares e neuroendócrinos”, diz o coordenador do estudo.
Os homens eram mais expostos a várias questões laborais consideradas fatores de risco para doenças… as mulheres daquela mesma geração são mais afetadas por doenças crônicas que incapacitam, aponta o estudo.
Ele ainda explica que a síndrome da fragilidade, que é mais comum em mulheres do que em homens, é uma questão complexa. “As mulheres são mais afetadas por doenças crônicas que não matam, mas geram incapacidade. Então, como consequência dessa realidade, elas vivem mais tempo e podem desenvolver mais a síndrome de fragilidade do que os homens”.
O estudo levou em consideração a realidade de gênero de pessoas que hoje têm mais de 60 anos e vivem na Inglaterra. “Os homens eram mais expostos a várias questões laborais consideradas fatores de risco para doenças. A alimentação deles era menos saudável, eles não consultavam médicos tanto quanto as mulheres e tinham maior consumo de álcool e exposição a agentes nocivos, o que aumenta o risco de doenças cardiovasculares, como o infarto”, explica Alexandre.
Por outro lado, as mulheres daquela mesma geração são mais afetadas por doenças crônicas que incapacitam. “Essa realidade diferente entre os gêneros surge como um pano de fundo ao longo de toda uma vida e culmina em um processo de envelhecimento e causas de morte, incapacidade e fragilidade diferentes entre homens e mulheres”, complementa Alexandre.
O estudo foi financiado pela FAPESP e seus resultados poderão subsidiar a formulação de políticas públicas voltadas para a saúde do idoso.