01 de Novembro de 2024 | Larissa Gabriel Alvares
Homem maduro correndo | Créditos: Barbara Olsen – Pexels
Mesmo com movimentação trilionária em ascensão no mercado, população madura ainda encontra dificuldades de inclusão intergeracional na sociedade
Assim chamada pela cor acinzentada do fio de cabelo, a economia prateada é responsável por movimentar R$ 1,6 trilhões no Brasil, segundo dados da consultoria Data8. No entanto, mesmo com renda trilionária, muitas marcas e companhias não se comunicam adequadamente com esse público, e acabam priorizando suas campanhas, majoritariamente, para gerações como Millennials (nascidos entre 1981 e 1996) e Z (nascidos entre 1997 e 2012).
A questão é que os longevos continuarão em ascensão no Brasil, e até 2070, irão compor cerca de 37,8% da população nacional segundo as Projeções da População, pesquisas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Consequentemente, a circulação de capital em serviços que atendem as demandas dessa faixa-etária tende a aumentar. Observamos então, o impacto que a revolução da longevidade tem no mercado brasileiro.
A equipe do The Silver Economy entrevistou o analista socioeconômico do IBGE, Jefferson Mariano, para entender pontos importantes da economia prateada no Brasil. Jefferson explica que o país passou por um aumento da expectativa de vida de modo mais acelerado do que outras economias emergentes, e isso está sendo refletido no poder de consumo da população 50+: “Como no mercado de trabalho as remunerações são mais elevadas para as faixas etárias superiores, observa-se no Brasil o surgimento de um contingente com potencial de consumo expressivo”.
Algumas áreas de produtos e serviços voltados para esse público tiveram crescimento notável nos últimos anos, principalmente em setores de seguros, alimentação e saúde. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada recentemente, outro setor que também observou aumento foi o turismo, tendo em vista a ascensão do número de viagens de pessoas com 60 anos ou mais.
Ainda, a pesquisa revela um salto na inclusão digital dos maduros, grande parte desta população passou a utilizar serviços digitais e aparelhos smartphones.
O analista observa que, no médio prazo, os maduros devem se tornar a principal fatia a ser explorada pelo mercado: “Em primeiro lugar, em razão do crescimento do número de idosos no Brasil. Essa parcela da população aufere rendimentos mais elevados e em algumas cidades do país, especialmente no interior, os aposentados representam o segmento com rendimentos mais elevados”. Outros motivos impulsionam os longevos aposentados a entrarem na mira do mercado: “Também, em razão da elevada informalidade na economia brasileira, os aposentados acabam se tornando alvo preferencial do sistema financeiro em razão de poder oferecer garantias.”, conclui Jefferson.
No entanto, apesar de serem consumidores ativos, a falta de planos de inclusão intergeracional nas companhias e contratantes acaba afetando a carreira destes maduros: “ainda existem barreiras concernentes à contratação de pessoas mais velhas em alguns setores da economia. Muitos idosos que se aposentam e retornam ao mercado de trabalho não encontram emprego compatível com sua experiência e acabam desenvolvendo atividades precárias” diz o analista.
E não é só nas empresas que o etarismo é reproduzido, muitos elementos e pensamentos enraizados na sociedade marginalizam e estereotipam o público maduro. “Vale lembrar que as placas de identificação de locais reservados para pessoas idosas ilustram uma pessoa curvada com bengala. No Brasil, são consideradas idosas pessoas com 60 anos ou mais. Não é verdade que a maior parcela dessa faixa etária utilize bengala ou tenha restrições de mobilidade”, explica Jefferson.
Apesar disso, existem maneiras de mitigar esse preconceito. Um dos pontos importantes é a contratação de pessoas com mais de 50 anos. Jefferson conta que essa prática não se limita somente no período da contratação, mas, sendo feita de maneira efetiva, faz com que o indivíduo longevo possa ativamente contribuir para a instituição, usando sua experiência profissional.
Quando aplicada ao varejo, é possível ver os resultados desta prática na mudança da comunicação das marcas com o público: “Especialmente no varejo, a contratação e permanência de idosos ativos tende a fazer com que os clientes se identifiquem com a marca. Acredito que essa decisão tenha um efeito demonstração e acabe por influenciar decisões relacionadas a estratégias de marketing”, ressalta o economista.