15 de Janeiro de 2025 | Redação The Silver Economy
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Três Garrafas De Bebidas Variadas Na Mesa De Madeira Marrom | Créditos: Edward Eyer – Pexels
A iniciativa, que incentiva as pessoas a passarem pelo menos o primeiro mês do ano sem consumir bebidas alcoólicas, é uma oportunidade para repensar hábitos
Para muitas pessoas, o início de um ano é marcado por metas e planos. Praticar mais exercícios e ter uma dieta mais saudável são algumas das preocupações com a saúde que chegam com o novo ciclo. Uma iniciativa que tem ganhado força nesse período é o Dry January, ou “janeiro seco”, movimento que teve início no Reino Unido em 2013 e propõe um mês de abstinência de álcool como forma de repensar a relação com a bebida e promover melhorias na saúde.
No final de 2024, os Estados Unidos divulgaram novas recomendações sobre o consumo de álcool, destacando a ligação direta entre a bebida alcoólica e o aumento do risco de câncer. Segundo o documento, comunicado pelo cirurgião-geral do país, Vivek Murthy, cerca de 100 mil casos de câncer e 20 mil mortes são causadas pelo álcool anualmente nos EUA.
Além de reforçar que não existe uma dose segura para o consumo de álcool, as recomendações incluíram medidas para aumentar a conscientização e reduzir casos e mortes relacionadas ao consumo, como a atualização dos rótulos de advertência em bebidas alcoólicas.
No Brasil, onde o álcool está presente em diversas ocasiões sociais — de festas a encontros familiares —, a ideia de um mês sem beber pode parecer desafiadora. Dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) mostram que, em 2023, houve 27 internações relacionadas ao álcool para cada 100 mil habitantes, e a taxa de óbitos dobrou entre 2010 e 2023.
Segundo o especialista Arthur Guerra (CRM 33807), Especialista em Psiquiatria e Integrante do Núcleo/Centro de Álcool e Drogas no Hospital Sírio-Libanês, os benefícios da abstinência variam de acordo com o padrão de consumo anterior. “Se o consumo era moderado ou social, essa pausa ajuda o corpo a ficar mais saudável, ajustando questões como sono e alimentação. Agora, se era um consumo mais intenso, com alterações no fígado ou reclamações familiares, a parada traz benefícios ainda maiores, como desintoxicação, perda de peso e a possibilidade de voltar a beber de forma mais controlada”, explica.
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Arthur Guerra, Especialista em Psiquiatria e Integrante do Núcleo/Centro de Álcool e Drogas no Hospital Sírio-Libanês | Créditos: Divulgação
Além dos ganhos fisiológicos, Guerra aponta que o Dry January também é uma oportunidade de repensar comportamentos relacionados ao consumo de álcool. “As pessoas não percebem o quanto o hábito de beber está enraizado em suas rotinas. Parar por um mês ajuda a questionar se aquele consumo é realmente necessário ou se é apenas fruto de hábito. Já ouvi pacientes dizerem: ‘Eu bebo porque meus pais, tios e primos bebiam assim’. Rever esses padrões é fundamental para evitar que comportamentos prejudiciais se perpetuem.”
Efeito rebote
Embora o Dry January traga diversos benefícios, é preciso atenção para evitar o “efeito rebote”, chamado assim pela compensação da abstinência com um consumo elevado após o período de pausa. “Esse risco existe para um número pequeno de pessoas. Se a pessoa sente essa necessidade, é hora de refletir: ‘será que o meu consumo está sob controle? Será que eu não estou usando o álcool como alívio para depressão, ansiedade ou problemas de sono?’ É fundamental estar atento a esses sinais e buscar ajuda, se necessário”, alerta Guerra.
O especialista sugere algumas estratégias práticas para evitar recaídas ou excessos após o período de abstinência. “Muitas vezes, a pessoa bebia todos os dias. Depois do Dry January, ela pode tentar beber apenas nos fins de semana ou reduzir a quantidade. Por exemplo, quem bebia uma garrafa de vinho por noite pode passar a consumir apenas meia taça. É importante aproveitar essa oportunidade para rever a relação com a bebida”, orienta.
Além dos benefícios individuais, iniciativas como o Dry January têm um impacto positivo na saúde pública. Elas ajudam a promover uma cultura de consumo consciente, contribuindo para a redução dos índices de abuso de álcool. “Essas pausas não pregam a abstinência completa, mas sim o uso moderado. O álcool, quando consumido de forma responsável, pode ter um papel social importante. Esse tipo de campanha abre portas para políticas públicas que incentivem o consumo consciente e a revisão de hábitos que, muitas vezes, trazem prejuízos à saúde sem que as pessoas percebam”, conclui Guerra.