15 de Outubro de 2024 | Amanda Albela
Silvia Rezende é pedagoga e psicóloga – Crédito: Divulgação
Por Silvia Rezende
O sistema de saúde brasileiro enfrenta o desafio da longevidade. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população com mais de 60 anos no Brasil aumentou 39,8% em uma década, atingindo 31,2 milhões em 2021. Isso indica uma vida mais longa e ativa para os brasileiros.
A longevidade da população brasileira é impulsionada por fatores como o aumento da expectativa de vida, os avanços da tecnologia e da ciência, e a melhoria dos hábitos de vida. No entanto, isso contrasta com a diminuição das taxas de natalidade. O IBGE prevê que, em 2030, a população com mais de 60 anos no Brasil superará o número de crianças e adolescentes de zero a quatorze anos, uma realidade já presente em cidades como Porto Alegre e Rio de Janeiro.
Mas o Brasil está preparado para atender às necessidades socioeconômicas dessa população idosa? A população sênior não deve ser vista apenas sob a perspectiva da saúde, associando a velhice à fragilidade e à doença. Este grupo é consumidor de lazer, turismo, gastronomia, arte e cultura, e muitos têm renda suficiente para viver de forma ativa e saudável.
No entanto, não se pode ignorar a necessidade de cuidado e acolhimento dessa população no sistema de saúde brasileiro. O Sistema Único de Saúde (SUS), juntamente com as operadoras de saúde suplementar, tem o desafio de atender aos usuários com dignidade e eficácia, conforme expresso no Estatuto do Idoso.
Apesar da cobertura universal do SUS, cerca de 25% da população brasileira possui seguros de saúde privados. Dentre esse grupo, as pessoas com mais de 60 anos representam 7 milhões de usuários, segundo o Panorama dos Idosos Beneficiários de Planos de Saúde no Brasil, desenvolvido pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). O estudo também mostrou que os vínculos dessa faixa etária com as operadoras de saúde suplementar mais que dobraram, com um aumento de 107,6%.
O número de usuários de planos de saúde apresentou aumento de 1,9% no comparativo de fevereiro de 2023 com o mesmo mês de 2024, que registrou quase 51 milhões de usuários de assistência médica e 32,2 milhões de clientes de planos exclusivamente odontológicos. Os dados são da nova edição do Panorama da Saúde Suplementar publicado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
No entanto, a busca por benefícios em planos de saúde está crescendo proporcionalmente ao aumento da população, mas a cobertura assistencial não está acompanhando essa evolução. Isso é comprovado pelo estudo ‘Idosos e planos de saúde no Brasil’, que avaliou as reclamações de beneficiários da Região Sudeste do Brasil com dados da ANS. As reclamações dos beneficiários idosos, em comparação com adultos e crianças, foram significativamente maiores (60,8 versus 25,5 reclamações/10.000 beneficiários), sendo a cobertura assistencial o tema mais frequente das reclamações (68,1%).
Isso indica que o serviço precisa ser reestruturado para atender à demanda da população com mais de 60 anos. A cobertura assistencial precisa ser revisada, incluindo tratamentos e atendimentos específicos para a vida longeva.
“Na maior parte do mundo desenvolvido, o envelhecimento da população foi um processo gradual acompanhado de crescimento socioeconômico constante durante muitas décadas e gerações, enquanto no Brasil vem ocorrendo de forma acelerada”, afirma o estudo publicado no site da Ciência e Saúde Coletiva.
Por fim, é importante questionar a ideia de que a população idosa sobrecarrega o sistema de saúde suplementar. Essa premissa é enganosa, pois o crescimento progressivo dos gastos com saúde está relacionado à incorporação de novas tecnologias, ao aumento da remuneração do setor e à distribuição assimétrica do mercado.
A sustentabilidade dos sistemas de saúde, tanto público quanto suplementar, diante da transição demográfica e do maior uso dos serviços de saúde por idosos, é um ponto de atenção que precisa ser considerado pela sociedade e pelas instituições públicas brasileiras. A demanda e seus respectivos gastos não devem apenas causar preocupação. Precisamos criar regras e políticas públicas para acolher os idosos. O envelhecimento precisa ocorrer com saúde e qualidade de vida.