Trabalho depois dos 60: Mais de 8 milhões de brasileiros longevos estavam ocupados no segundo semestre de 2024

12 de Novembro de 2024 | Larissa Gabriel Alvares

Homem maduro toma o seu café | Créditos: Nicola Barts – Pexels

Fatores como o crescimento da população idosa no país e necessidade de complementação de renda fomentam o aumento de maduros no mercado de trabalho

Dados divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que o número de profissionais ocupados com mais de 60 anos no país somam cerca de 8,042 milhões. A apuração é referente ao segundo trimestre de 2024.

O número é o maior que o país já viu em todos esses anos. Para comparação, no primeiro trimestre de 2012, quando esse tipo de levantamento começou a ser realizado, a quantidade de pessoas trabalhando nessa faixa etária era de 4,934 milhões. Com esse aumento, as empresas começam a prestar atenção nos novos perfis de funcionários maduros, e desenvolvem projetos que abrangem até mesmo frentes de inclusão e combate ao etarismo.

Aumento progressivo

Existem alguns fatores que justificam o crescimento de pessoas longevas no mercado de trabalho, como o aumento de pessoas idosas no Brasil. A elevação da expectativa de vida média e a diminuição da taxa de natalidade nos últimos anos fez com que a população brasileira com 60 anos ou mais quase duplicasse em comparação com os anos 2000. As Projeções da População indicam que, num período de 24 anos, a porcentagem de idosos subiu de 8,7% para 15,6% no país.

Também, a Reforma da Previdência de 2019, que elevou a idade mínima da aposentadoria, obrigou que as pessoas trabalhassem por mais tempo. Mas, mesmo após se aposentarem, muitos maduros buscam continuar atuantes no mercado de trabalho para complementar a renda da aposentadoria. Fatores comportamentais estão inclusos nesse aumento progressivo, como a necessidade de permanecer física e socialmente ativo, devido a rotina de tarefas decorrente das ocupações, que causa grande impacto na saúde mental dos indivíduos longevos.

Esse é o caso de Vera Lucia Muniz, de 60 anos, que atualmente trabalha na Nestlé, na Boutique Nespresso, no shopping Morumbi, em São Paulo. Em entrevista ao Estadão, Vera contou:

Voltei a trabalhar para conhecer pessoas, para me relacionar mais e pela parte financeira. Só com a aposentadoria não se vive. […] A gente se aposenta naquela ilusão. Vou viajar, passear bastante, mas a realidade é que não dá para fazer tudo isso. […] Em casa, eu me sentia muito solitária”, afirmou Vera ao jornal.

Adaptações do mercado de trabalho

Com o aumento da faixa etária dos funcionários, as empresas e companhias de contratação começam a fomentar a intergeracionalidade, ou seja, o convívio de pessoas com diferentes idades. Algumas iniciativas, como a consultoria Maturi, incentivam a diversidade etária divulgando vagas para pessoas longevas e elaborando campanhas que visam o combate ao etarismo pela desmistificação da imagem de pessoas com 60 anos ou mais.

No entanto, mesmo com mais espaços para essas discussões atualmente, a informalidade para essa faixa etária continua a crescer. Entre os profissionais com mais de 60 anos, 53,5% dos ocupados estão atuando em trabalhos informais. O resultado só fica abaixo da faixa etária de 14 a 17 anos (72,9%), segundo dados da PNAD.

A precarização dos maduros no mercado de trabalho ainda é muito forte, até mesmo a identificação do problema não é devidamente executada pelas corporações. Um levantamento recente da empresa de recrutamento Robert Half América do Sul, em parceria com a Labora, mostrou que 70% das companhias não têm indicadores claros para medir o avanço de suas ações, o que faz com que muitos ambientes corporativos sejam alheios ao preconceito etário.

Em entrevista ao Estadão, Lucas Assis, economista da consultoria Tendências, fez uma análise sobre como o trabalhador maduro se torna suscetível a aceitar trabalhos precarizados, principalmente se já for aposentado, devido a necessidade de completação de renda pelo custo de vida elevado:

Os profissionais mais velhos estão dispostos a atuar em diversas condições de trabalho, confirmando a vantagem da contratação do trabalhador idoso, pois, se aposentado, a tendência é o trabalhador aceitar uma vaga com baixas garantias trabalhistas”, diz Lucas Assis.

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